Urgência
- Paula Rossi
- 13 de jul. de 2024
- 1 min de leitura
Cada vez que escrevo sobre você, tropeço nas palavras. Vou escrevendo e escrevendo, à flor da pele; às vezes esqueço onde colocar as vírgulas e os pontos, às vezes repito algo de novo e outra vez. Escondo pistas no texto, palavras que sei que você vai reconhecer, porque elas foram ditas em momentos que só nós vivemos, enquanto nossos dedos se tocavam e nossas línguas se encontravam.
Escrevo porque acho um desperdício sufocar toda a sinceridade que hoje em dia é tão rara. Escrevo para você, mas também por mim mesma, para me poupar do drama da covardia, mesmo que no momento seguinte eu pense que tudo isso não passa de uma grande bobagem.
Escrevo porque minha memória pode ser cruel e meu coração, por natureza, inquieto. Escrevo para dar pernas a esse afeto que sinto, esperando que ele encontre um lugar para estar. E escrevo também para registrar: tudo o que é importante, de um jeito ou de outro, foi dito – e isso me dá certo alívio.